quarta-feira, 28 de março de 2018

casa colonial, Parque da Independência

Casa de taipa-de-mão, construída à época colonial, hoje conhecida como a Casa do Grito, antiga parada de tropeiros no caminho do mar, localizada dentro do Parque da Independência, Ipiranga, São Paulo. Informações na própria casa, hoje um museu, afirmam que, no período colonial, “pousos e vendas [como essa casa] de estrada eram fundamentais para circulação de pessoas, animais e mercadorias. Neles o viajante achava abrigo, as mulas e cavalos podiam refazer-se do esforço e era possível encontrar alimentos e provisões”. Nesse caso,  as mercadorias ofertadas eram fabricadas no próprio ambiente doméstico. Em casas bandeiristas, o programa habitacional previa também a hospedagem desses viajantes. Fato curioso é a presença dessa casa no famoso quadro pintado por Pedro Américo, que idealizou a independência brasileira na ufanista tela “independência ou morte” (imagem abaixo). Resta saber se o monarca brasileiro (e seu agudo desarranjo intestinal) desconcentraram a provinciana rotina da família que morava nessa casa. No canto inferior esquerdo da tela há um camponês que parece descompreender a histeria dos militares envolvidos. Se há algo verídico nesse quadro, é a casa colonial e o piriri do monarca.













quinta-feira, 22 de março de 2018

Parque do Ibirapuera, Oscar Niemeyer


Edifício localizado no Parque do Ibirapuera, inaugurado em 1954 como parte das comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. Atualmente, esse imóvel encontra-se vazio, o abandono e a deterioração são notáveis. Sua solução projetual é bastante parecida com outro prédio, atual sede do museu africano-brasileiro. Por outro lado, sua relativa austeridade formal contrasta com outras tipologias icônicas do parque, como as adotadas na Oca e no Auditório. No eixo longitudinal, em um lado da fachada, há um brise que protege o fechamento envidraçado anterior. Já o recuo do pavimento térreo projeta uma grande área de sombra por toda a extensão (a projeção do pavimento acima é sustentada por colunas inclinadas). O ambiente paisagístico do entorno e a ausência de outras edificações muito próximas realçam o objeto arquitetônico implantado. Visita realizada em 16 de setembro de 2017.














Parque Dona Lindu, Oscar Niemeyer


Parque Dona Lindu, projetado em 2006 pelo arquiteto Oscar Niemeyer, bairro Boa Viagem, orla da praia, Recife. Aqui, há dispositivos repetidos em inúmeras outras obras do autor, realizadas em épocas, lugares e circunstâncias diferentes: superfícies curvilíneas esculturais de concreto armado pintadas de branco, hipervalorização formal nem sempre concatenada com aspectos programáticos, planos fechados e inexistência de janelas, implantação apriorística dos objetos arquitetônicos e indiferença com relação a ambiências preexistentes nas vizinhanças (menciona-se, no entanto, que as edificações dessa vizinhança são edifícios de apartamentos construídos pelo mercado imobiliário nos anos 2000, quase todos de uma miséria estética notável). No caso do parque recifence, são duas edificações principais interligadas por uma marquise curva, solução que contribui para setorizar os espaços externos. As áreas não construídas do parque contêm uma vegetação rasteira: gramado, arbustos e árvores com pouca ou nenhuma sombra. Por isso, intensificado pelo clima quentíssimo da capital pernambucana, o resultado são espaços inóspitos praticamente o tempo inteiro, insuportável nos dias ensolarados, o que prejudica a solenidade da fruição da obra: os termos da própria arquitetura-escultura prejudicam sua apreciação. A mencionada marquise é o que viabiliza a mínima permanência dos pedestres no local. Para piorar, o nível de reflexão da luz é maximizado pelo uso absoluto da cor branca, aumentando ainda mais a temperatura ao redor da arquitetura-escultura proposta. Em uma das edificações há uma grande abertura para o exterior, pintada de vermelho, o que parece viabilizar apresentações artísticas realizadas a partir do interior (com público acomodado no exterior). Esse mesmo expediente foi utilizado no auditório do Parque Ibirapuera em São Paulo, projetado nos anos 1950, mas construído, no entanto, apenas nos anos 2000. Visita realizada em 2012.














sábado, 17 de março de 2018

Escola Politécnica, Ramos de Azevedo

Edifício projetado em 1920 pelo arquiteto Ramos de Azevedo, sede do curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, posteriormente incorporada à Universidade de São Paulo. Ele se localiza na praça Coronel Fernando Preste, Bom Retiro, São Paulo. Como tantos edifícios acadêmicos emblemáticos realizados pelo autor nas primeiras décadas do século XX, esse imóvel estampa diversos elementos clássicos em sua fachada, como capitel (dórico, jônico, coríntio) e frontão. A estrutura é de alvenaria e algumas paredes têm 80 centímetros de espessura. No porão, como não há revestimento, é possível observar o belo trabalho de mestres-de-obras especialistas na técnica da alvenaria, inclusive nas abóbodas que sustentam o pavimento superior. Salmoni e Debenedetti (2007) apontam que boa parte dessa mão-de-obra era italiana. O próprio escritório Ramos de Azevedo continha em seu quadro diversos profissionais de origem italiana, entre construtores e arquitetos, como Domiziano Rossi e Felisberto Ranzini. Ao centro da edificação, no elemento saliente com maior altura, a estrutura da cobertura é metálica, o fechamento é envidraçado e a pintura exterior é esverdeada. Do ladrilho hidráulico aos vitrais coloridos, nota-se o requinte do local onde a elite abastada da cidade recebia sua formação técnico-universitária. A imagem figurativa de um dos vitrais mostra, na interpretação de quem o desenhou, o processo de criação de um arquiteto (o apoio em que ele está sentado é um capitel grego). Atualmente, funciona no prédio o arquivo público da cidade. Visita realizada dia 17 de março de 2018.